Rudolf Georg Lind

LIND, Georg Rudolf. Teoria poética de Fernando Pessoa. Porto: Inova, 1970.

O crítico alemão Georg Rudolf Lind teve acesso a centenas de originais críticos e teóricos de Pessoa, que estabeleceu e reuniu, juntamente com Jacinto do Prado Coelho, nas Páginas de estética e de teoria e crítica literárias (1965). Em Teoria poética de Fernando Pessoa, o resultado hermenêutico dessa empreitada é a construção da imagem de um poeta moderno, dividido entre o fazer e o refletir sobre a própria poesia.

Nesse percurso, realizado a partir da depuração teórica do manancial psicobiográfico de Gaspar Simões, Lind explora os heterônimos a partir de suas possíveis estruturas de pensamento: o paganismo em Caeiro, o neoclassicismo em Reis, o sensacionismo em Campos e o caminho alquímico em parte do ortônimo. Suas ponderações sobre o processo criativo de Pessoa – em especial as noções de fingimento e despersonalização, abordadas como reações antirromânticas – em paralelo com a concepção poética de outros autores-críticos modernos, são de grande valor para a compreensão da poética pessoana. Embora a concepção-chave de seu livro tenha surgido na biografia de Gaspar Simões, para quem “as ideias do Fernando Pessoa crítico são como a guarda avançada da sensibilidade do Fernando Pessoa poeta”, ela tem aqui um alcance mais amplo.

Torna-se fundamental para Lind considerar Pessoa um autor programático, ou seja, um autor cujos versos derivariam de um programa previamente concebido. A exemplo do que se verifica em Gaspar Simões, a perspectiva do crítico é fundamentalmente teleológica, ao considerar as divagações iniciais e o pensamento especulativo de Pessoa como pontos de partida para a evolução poética posterior. A primeira impressão deste livro é de uma clareza meridiana, que vai, no entanto, tornando-se suspeita à medida que se nota que as análises dos poemas são realizadas sempre à luz de um sistema de valoração que supostamente os sustenta. Essa exemplaridade leva o crítico a considerar que alguns poemas, como “Chuva Oblíqua”, não são compreensíveis sem a teoria que lhes está por detrás. Em que pesem as análises literárias tomadas como exemplo durante a reflexão, esse é um risco inerente ao método que embasa todo o livro, mais voltado à teoria do que à prática poética pessoana. 

(Gagliardi, C.)